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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

MORENA MEU BEM QUERER


1979 foi o ano que cheguei em Campo Grande. Vim para resolver um punhado de coisas referente a minha nova moradia. Ia freqüentar o primeiro curso de filosofia da antiga FUCMT que se iniciou em 1980 para atender uma turma que estava a fim de ser padre e eu era um deles. De cara encantei-me com os traçados das largas ruas e as Avenidas da cidade. Trazia na mochila uma esperança danada de que aqui seria meu lugar. O falecido Padre Salesiano Leonardo Jacussi, meu ex-diretor, maestro italiano, ensinou-me a entender da boa música, dizia: “o clima de Campo Grande é especial, você vai esquecer o calor de Cuiabá em pouco tempo. Aproveite esse tempo e estude”. Foi o que eu fiz!

Saí de uma cidade na beira do Rio Paraguai, a bi centenária Cáceres de MT, lá onde nasci. Cuiabá deixei para traz depois de passar setes anos no Seminário Cristo Rei coordenado pelos Salesianos. Daí veio minha formação balizada na organização, gosto pela música, encanto pelo latim, pela cultura que impregnou minha mente. Consegui nesses anos de formação consolidar amizades com os valorosos educadores que imprimiram o gosto pela leitura. Na FUCMT o Professor Hidelbrando Camprestrini despertou meu interesse pelas letras e aguçou a leitura pelos autores brasileiros.

Quando entrei pela primeira vez no Colégio Dom Bosco fui acolhido pelo Pe. Valter Boch. Um grande homem cheio de sabedoria. Foi meu mestre! . No colégio Dom Bosco foram muitos minutos que contabilizei observando aquela infinidade de alunos. Uma Escola Salesiana que funcionava os três períodos com muitos alunos desde a infância até a faculdade. Campo Grande foi apresentando a cada dia muitas novidades. Um caipira do interior que estudou com nove colegas no primeiro e no segundo graus agora estava numa sala com oitenta acadêmicos entre homens e mulheres.

Já integrado na vida acadêmica foi fácil ampliar as relações de amizades, desenvolver a pastoral nas comunidades. Era missão nos finais de semana! Vi crescer os bairros; Jardim Imperial, Campo Belo, Estrela do Sul, Paulo VI, Bairro Santo Antonio, Coopha Vila II e a Comunidade da Tia Eva perto da capela de São Benedito. Nós músicos temos essa vantagem; somos convidados a tocar em muitos lugares. No meu caso, em pouco tempo já conhecia vários bairros da nova capital. Num piscar de olhos lá estava no meio dos capuchinhos junto com o tecladista Alencastro aos domingos tocando na missa televisionada na TV MORENA. Era a novidade dos anos oitenta em Campo Grande. A família Zaran abriu esse espaço e o Saudoso Dom Antonio sabia da importância desse espaço para a Igreja.

Não foi difícil participar da Luta contra a instalação das USINAS de ALCOOL no PANTANAL. Participei da histórica passeata na 14 de Julho que tinha a liderança do ambientalista FRANSELMO. Aquele que se imolou aí na Rua Barão do Rio Branco. Esse sujeito foi espetacular em vida. Acreditou na luta da qualidade de vida para todos desta cidade sem esquecer o nosso estado. Era antenado no mundo.

Na FUCMT acompanhei toda a movimentação estudantil, as discussões dos jovens comunistas. Eu cristão no meio daqueles caras com umas idéias claras sobre a luta contra a ditadura. Plantaram novas idéias na minha mente. Comecei a ler Sartre, Marx, Engel. Meu quarto do seminário virou point para cultivar as novas idéias e livros. Na segunda visita do Arcebispo de Cuiabá o Dom Bonifácio Piccinini (como seminarista pertencia à Arquidiocese de Cuiabá), encarou-me reprovando minhas investidas no campo do socialismo. Exigiu minha saída da participação na chapa do DCE. Meu caminho ficou curto na vida celibatária. Fora do Seminário decidi ficar aqui na Capital.

Campo Grande acolheu-me na vida profissional como professor. Conheci muitas pessoas na educação durante o tempo de trabalho no Colégio Estadual Maria Constança de Barros Machado, Isaura Higa nas moreninhas quando o colégio ainda estava em cima de contêineres. No trajeto de retorno para casa percebia a cada mês o crescimento do comércio ao longo da saída para São Paulo.

Desde 1983 via o desenvolvimento da cidade seguindo do centro pela rua Joaquim Murtinho dirigindo-me para o Residencial Maria Aparecida Pedrossian na saída para três lagoas. Teve um tempo que fui trabalhar no projeto da SHIRPA presidida pela saudosa benemérita Dona Maria Edwirges de Albuquerque Borges. Uma cidadã que deixou marcas profundas de humanidade com seu trabalho junto ao antigo hospital Sanatório Mato Grosso, (hoje hospital nosso lar) e na federação Espírita. Seu trabalho foi de fundamental para reabilitar os portadores de Hansenianos egressos nesta cidade. Lembro-me de ter ido varias vezes buscar ajuda com o Jornalista Antonio João Hugo Rodrigues um dos apoiadores dessa causa humanitária. Foi aí nesse trabalho no Bairro Nova Lima onde havia quase ao lado do Hospital São Julião uma centena de casas que abrigavam os hansenianos que saiam do tratamento hospitalar e através da SIRPHA (Sociedade de Integração e Reabilitação da Pessoa Humana) eles buscavam a assistência social. Seus filhos participavam dos projetos de formação profissional e cultural da entidade. Conheci esse lado de Campo Grande. No ir e vir fui acompanhando o progresso da cidade nessas bandas da saída para Cuiabá.

Sem contar que acompanhei o belo trabalho realizado dentro do Hospital São Julião pela Ir. Sílvia com ajuda dos voluntários estrangeiros e da sociedade Campo Grandense que sempre apareciam por lá para dar sua contribuição.

Todo ano eu ia para minha terra natal. Mesmo no meio dos parentes curtindo as férias sentia vontade de voltar para Campo Grande. Já tinha certeza que havia escolhido esta cidade pra viver. Campo Grande é um dos meus amores sólidos. Aqui casei, tive meus filhos e hoje a grande maioria dos meus amigos estão aqui. Sou um amante a moda antiga. Gosto de passear no mercadão, conversar com os índios e comprar piqui, gueroba e milho verde. No mercadão encontro com os amigos, compro sempre uma novidade e acho sempre o que procuro por lá.

Campo Grande é minha cidade. Falo com orgulho dessa morena que a cada dia está ficando formosa e melhor de se viver. Tenho as preocupações com tudo que se passa em relação à cidade. Leio dois jornais todos os dias, procuro assistir os noticiários da TV e alguns poucos programas locais. Interesso-me em saber de tudo desta cidade. Preocupo-me com ela. Luto pela recuperação do APA LAGEADO, BACIA do GUARIROBA, conheço de perto todas as nascentes que abastecem a cidade. Entristeço-me com feitura de obras que não tem planejamentos e agridem o que há de mais belo na cidade: as arvores, as nascentes que ainda insitem em sobreviver.

Nesses 110 anos de Campo Grande já contabilizo quase trinta anos que aqui estou. Campo Grande me adotou. Estou integrado nas coisas deste município. No lugar onde vivo cuido como se fosse minha casa por isso, quero no aniversário de Campo Grande desejar-lhe uma vida longa. Que seus filhos legítimos tenham pela cidade o mesmo amor que tem a maioria dos adotados que escolheram como eu aqui viver. Campo Grande merece nosso cuidado e toda a nossa atenção. A esta morena declaro todo amor de filho adotado que tem orgulho do acolhimento. Campo Grande minha vida é você!

Prof. Jânio Batista de Macedo – Presidente da AMAPE

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