Lendo diariamente os Jornais, vira e mexe tem uma matéria sobre os conflitos entre Fazendeiros e Índios. Conhecemos praticamente cinco séculos de história do Brasil. Nos bancos de escolas pouco se aprofunda sobre a realidade dos índios. A história do índio passou a ser feita a apartir do branco. Em meio milênio a sociedade expansionista brasileira deixou um saldo catastrófico, resultante da completa dizimação dos povos indígenas: de aproximadamente sete milhões de índios que habitavam o Brasil, restam, apenas poucos mais de 200 mil. Este é o saldo do avanço da “civilização”.
O índio foi considerado, nos primórdios da colonização do Brasil, como recurso disponível para a exploração das riquezas coloniais. Porém, a apartir do momento que não se adaptou ao modo de produção implantados no Brasil, passou a ser considerado como estorvo para expansão do sistema colonial. As grandes sesmarias, que representaram o retalhamento das terras dos índios em favor dos colonizadores, causaram maior impacto cultural, porque foram desalojadosdo seu meio natural.
Enquanto no Nordeste e Norte o avanço da economia colonial, fundada no escravismo, dizimava os índios, no Sul e Centro-Oeste a ação dos bandeirantes e os conflitos coloniais de Portugal e Espanha destruíam povoados inteiros de índios reducionados pela ação missionária. O bandeirantismo é audaciosamente apresentados, nos guias de história, como movimento responsável pelo alargamento das fronteiras e pela fundação de núcleos coloniais no interior do Brasil.
Na verdade as Bandeiras foram, acima de tudo, expedições saqueadoras. Foram responsáveis pela destruição do conjunto das reduções do Guairá, por volta de 1632, e pelo aniquilamento das reduções do Rio Grande do Sul, em torno de 1640, exterminando seus povoados e prendendo seus índios para vende-los com peças aos donos das terras e de escravos.
O bandeirantismo revela a face do imperialismo do sistema colonial. Os interesses imperialistas são sempre, ao seu tempo, justificado. Assim, hoje, são justificados Itaipu, Tucuruí, complexo de barragens ao longo do Rio Paraguai, e assim por diante. Embora estraçalhe com comunidades inteiras, o avanço do capital não considera o direito de autodeterminação dos povos e nem respeita a individualidade das pessoas, ferindo-as na raiz da sua dignidade.
Além do mais, a cultura do colonizador, codificada nos livros didáticos, veicula e perpetua uma imagem do índio como aquele que impede o avanço da “civilização”. Muitos livros didáticos encontram-se permeados de falsos conceitos e de estereótipos negativos a respeito do índio. Qualificam-no como silvícola ou selvagem para desmerecer aos seus traços culturais que são contrastantes com os padrões defendidos pela sociedade expansionista.
O conceito do índio com pagão, não batizado e que, portanto, era rude e despossuído do estado de graça, perpassa os conteúdos veiculados pelos subsídios didáticos e manuais de leituras. Esta idéia serviu de pretexto para submetê-lo à dominação cristã, que era o instrumento subsidiário do expansionismo colonial de Portugal e Espanha. Cristianizado o índio tornaria mais dócil.
O índio é apresentado, ainda, como aquele que não produz e, por isso é considerado preguiçoso por natureza. Esta é uma projeção ideológica que decorre do modo de produção capitalista. De fato, o índio, em seu estado natural, jamais produziu para o mercado. A produção da sua vida material não se insere nas linhas da produção capitalista, mas caracteriza-se com uma economia tribal.
A identificação dos primeiros habitantes do Brasil deve ser diretamente associada ao espaço geográfico em que viviam e vivem. Este espaço geográfico significa, para estes povos, ao mesmo tempo, espaço cultural, social, político e espaço religioso. A terra e a natureza são categorias essenciais para a identificação das culturas nativas. O “modo de ser” do índio está diretamente relacionado com estas categorias. Desalojar o índio do seu meio natural significa desculturá-lo, tirar-lhe a liberdade, decretar-lhe a morte como povo e como civilização.
É neste meio cultural que o índio organiza o seu espaço de liberdade e revela as mais elevadas manifestações da sua existência. Neste sentido, o avanço da civilização expansionista sobre as terras indígenas, bem como a demarcação de suas áreas, representou e representa, ainda hoje, a redução do espaço existencial dos povos nativos.
No Brasil, especialmente aqui em Mato Grosso do Sul, é preciso entender isto, não existiu e não sobrevive uma única categoria étnico-cultural e social chamada índio.
Temos, isto sim, um grande número de povos nativos, que são distintos na sua cultura, na sua língua, na sua etnia, como: os Guaranis (São Paulo e Sul do Brasil), os Tupinikins (regiões Leste e Nordeste), os Potiguares (Paraíba), os Jurunas (Alto Xingu), os Karajás (Tocantins-Xingu) e os Kayovás (Mato Grosso do Sul), que, entre outros, permanecem ao tronco lingüístico Tupi; os Bororos e os Xavantes (Tocantins-Xingu), os Kaigangs (Sul do Brasil), os Xoklengs (Santa Catarina), e os Pataxós (Leste e Nordeste), que são parcialidades de um conjunto de povos do tronco lingüístico Macro-Jê; os Terenas (Mato Grosso do Sul e São Paulo) e os Parecis (Mato Grosso) fazem parte dos povos que compõem o tronco lingüístico Aruk. Assim, é preciso dizer que se desperte o interesse pela verdadeira identidade destes povos, para que se possa dar a eles o respeito que merecem.
Prof. Jânio Batista de Macedo -Aposentado
Foi Prof. de História da Educação e Cultura Brasileira-Unemat
Universidade Estadual de Mato Grosso - Este artigo já foi publicado no Jornal "O ESTADO MS"
Prof. Jânio Batista de Macedo -Aposentado
Foi Prof. de História da Educação e Cultura Brasileira-Unemat
Universidade Estadual de Mato Grosso - Este artigo já foi publicado no Jornal "O ESTADO MS"
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